Por Padu
Tenho acompanhado o percurso das turmas Caçula, Baobá, Xodó, Odara, Batucada, Dengo, Dendê e Cafuné (berçário e maternal) como professora de Artes Visuais desde fevereiro deste ano, vivendo uma jornada de descobertas e encantamentos ao lado das crianças na unidade do SNA, em Del Castilho.
A cada encontro, buscamos olhar para a natureza como parceira e inspiração. Nossos encontros são um convite ao brincar, explorando folhas, sementes, raízes, frutos, galhos e tudo o que o quintal e a imaginação podem nos oferecer. O intuito é abrir espaço para experiências afetivas que gerem criações que se conectem com cada criança, formando um elo entre criação, curiosidade e ludicidade.
A musicalidade está sempre presente em nossos encontros, com a visita de algumas histórias ou personagens que vinculam ainda mais a experiência à imaginação. A lagarta comilona abriu caminho nos ciclos das folhas, nos guiando por cheiros, sabores e texturas diferentes. Inspirados pelo livro A Lagarta Muito Comilona, de Eric Carle, e pela música Lagarta Comilona, de Shauan Bencks, descobrimos o espinafre, o repolho roxo, o alecrim e o manjericão, e seus potenciais tintórios e criativos — e brincamos de transformar diferentes materiais em lagartas famintas.

No ciclo das sementes, foi a rolinha que nos chamou para brincar, aquela que vive visitando as crianças na escola. Comedouros de passarinhos foram feitos para recebê-la e sua cantiga popular ecoou entre nós: “Rolinha voou, voou. Caiu no laço e se embaraçou. Me dá um abraço que eu desembaraço a minha rolinha que caiu no laço”. Além disso, feijão, urucum, café e cacau se transformaram em tintas e massinhas cheias de cor e perfume, trazendo ainda mais vida para nossas criações.
No ciclo das raízes, mergulhamos em cores intensas: beterraba e cúrcuma se transformaram em aquarelas e pigmentos para tecidos, e batatas viraram carimbos com diferentes formas. As pinturas coletivas se transformaram em bandeirolas com o nome de cada turma, que hoje adornam com muita beleza as entradas de cada sala.


Nesse momento, estamos no ciclo dos frutos, inspirados pelo macaquinho (sagui) que também nos visita diariamente na escola. Ao som da história cantada “Macaquinho, sai daí, você tem sua cama para se deitar…”, da Bia Bedran, descobrimos que uva vitória, açaí, pitanga e amora não servem só para comer: suas cores vibrantes viraram tintas que tomaram conta dos papéis, entre danças, cantos e pinceladas.
A arte tem se apresentado como linguagem viva, criada no encontro e na descoberta de cada dia. Entre tintas, sementes, raízes, frutos, galhos e folhas, floresceram olhares curiosos, sorrisos contagiantes, experiências sensoriais únicas e o prazer de criar juntos – no tempo da natureza.
A oficina de Artes Visuais faz parte do projeto Cultura na Primeira Infância, que oferece diversas oficinas artístico-culturais extracurriculares à Educação Infantil da Rede Cruzada, complementares à educação formal. Este projeto foi viabilizado pela Lei Rouanet (Incentivo a Projetos Culturais), com patrocínio da PRIO, Grupo GPS e White Martins.

Padu
Mãe, educadora e multiartista, Padu transita pelas artes cênicas, literatura e artes visuais. Ela é a coordenadora do Instituto Giranda, uma organização focada em projetos socioambientais e educacionais. Com formação em Ensino do Teatro pela Unirio e Pedagogia pela UniBF (Pedagogia para a Liberdade), Padu dedica-se desde 2010 ao fortalecimento cultural e educacional do Rio de Janeiro.
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