O investimento na primeira infância não é apenas a coisa certa a ser feita do ponto de vista ético, mas também a coisa inteligente a ser feita do ponto de vista econômico para as crianças, bem como para suas famílias, suas comunidades e a sociedade em geral.
Os primeiros anos de uma criança apresentam uma janela única de oportunidade para abordar a desigualdade, quebrar o ciclo da pobreza e melhorar uma ampla gama de resultados mais tarde na vida. Uma recente pesquisa do cérebro sugere a necessidade de abordagens holísticas para a aprendizagem, crescimento e desenvolvimento, reconhecendo que o bem-estar físico e intelectual de crianças pequenas, bem como seu desenvolvimento socio-emocional e cognitivo, está interrelacionado. Para aproveitar completamente futuras oportunidades na vida e tornarem-se membros produtivos da sociedade, as crianças, até ao final da primeira infância, devem ser: saudáveis e bem nutridas; devidamente apegadas a seus cuidadores; capazes de interagir positivamente com suas famílias, professores e colegas; capazes de se comunicar em sua língua nativa; e prontas para aprender no ensino primário.
Falhas no início do desenvolvimento infantil comprometem a capacidade da criança para atingir essas metas importantes e alcançar seu pleno potencial na vida. Intervenções nos primeiros anos têm o potencial de compensar as tendências negativas e fornecer às crianças mais oportunidades de uma qualidade ideal de aprendizagem, crescimento físico e saúde, e consequentemente aumentar sua produtividade ao longo da vida. Novas evidências biológicas e sociais oferecem uma riqueza de recursos com estratégias inovadoras que promovem o desenvolvimento e crescimento ideal da criança. Programas que agregam serviços (tais como nutrição e estimulação psicossocial) podem ter efeitos e taxas de retorno extremamente benéficos. Infelizmente, a maioria dos países deixa a desejar em sua prestação de serviços essenciais para as crianças e suas famílias. O desafio é desenvolver modelos rentáveis e escaláveis para prestar estes serviços em países de baixa e média renda.
O desenvolvimento na primeira infância (DPI), se refere ao crescimento e desenvolvimento inicial da criança desde a gravidez de uma mulher até o ingresso da criança à escola primária. Estes serviços são destinados a abordar a saúde, necessidades nutricionais, socioemocionais, cognitivas e linguísticas durante este período. Eles são essenciais porque os primeiros anos de vida de uma criança constituem a base para a aprendizagem futura, boa saúde e bem-estar, bem como a capacidade da criança para trabalhar bem com os demais na vida adulta.
Existe um consenso emergente de que o investimento no DPI devem ser prioridade e poderão trazer grandes retornos. Um crescente acervo de trabalhos da literatura demonstra que os retornos sobre o investimento em crianças pequenas são substanciais, sobretudo quando comparado ao investimento realizados em fases posteriores da vida. Por outro lado, a falta de investimento pode levar a custos muitas vezes irreversíveis, não só para os indivíduos e suas famílias, mas também para as comunidades e a sociedade em geral.
Por que os países deixam a desejar em seus investimentos no DPI? Um fator é o fato de que os países geralmente operam sob restrições orçamentárias rigorosas. Mas a experiência também sugere que outro fator está relacionado ao fato de que o DPI é altamente complexo e multissetorial. Ainda há falta de conhecimento dos benefícios do DPI e de como os países podem criar políticas de sucesso e programas escaláveis nesta área.
Vários parceiros para o desenvolvimento introduziram estruturas abrangentes para atender às necessidades holísticas da primeira infância. O UNICEF concentra-se em áreas-chave de intervenção DPI inclusive saúde, nutrição, HIV / AIDS, serviços básicos de educação e de proteção. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu diretrizes específicas para cada fase de desenvolvimento, inclusive a gravidez, pós-parto, lactente, criança pequena e cuidados de saúde da criança. Essas diretrizes ajudam os profissionais de serviços a fornecer melhores resultados de saúde em subperíodos específicos. Além disso, a Parceria para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil (PMNCH), liderada pela OMS e Universidade Aga Khan, fornece, aos decisores políticos, informações específicas sobre as intervenções essenciais de saúde para lidar com as principais causas de mortes maternas, neonatais e infantis. No Banco Mundial, o Early Childhood Development Guide for Policy Dialogue and Project Preparation apresenta pontos de entrada estratégicos para a implementação de um programa DPI eficaz nos países, inclusive os programas baseados em centros, programas domiciliares, e de transferência de renda, comunicação e campanhas de mídia voltadas para famílias com crianças pequenas.
Baseando-se em uma revisão de evidências científicas e experiências práticas, o Banco Mundial desenvolveu em 2010 a estrutura STEP, que é uma maneira simples de ver como os países podem ajudar as pessoas a passarem a ter uma vida produtiva. STEP significa Skills Toward Employment and Productivity [Qualificações visando Emprego e Produtividade]. A estrutura identificou cinco etapas pelas quais indivíduos podem progredir e aprender ao longo da vida. Este documento utiliza o DPI como a primeira dessas cinco etapas.
Este documento baseia-se nas estruturas existentes sobre os impactos das intervenções DPI. Resume parte da ampla e extensa literatura existente sobre este tema com o objetivo de identificar intervenções-chave necessárias para as crianças. O documento destina-se a fornecer uma introdução acessível para intervenções e serviços integrados que podem ajudar os decisores políticos e profissionais a pensarem sobre como investir efetivamente no DPI.
Além de identificar as principais intervenções, o documento descreve quatro princípios que podem ajudar os países a elaborar e implementar programas e políticas fortes de DPI. Os países devem: (i) preparar um diagnóstico e estratégia DPI; (ii) implementar amplamente por meio da coordenação; (iii) criar sinergias e reduzir custos por meio de intervenções integradas; e (iv) monitorar, avaliar e ampliar intervenções bem sucedidas.
Em termos de intervenções, dentro do período DPI, 25 intervenções-chave são identificadas como essenciais para o crescimento e desenvolvimento de uma criança. Para cada intervenção, são apresentados impactos e custos ilustrativos. São baseados em evidências existentes e destinados como meros indicadores. O documento sugere que
estas intervenções podem ser executadas por meio de cinco pacotes integrados em diferentes fases na vida de uma criança. Esses cinco pacotes de intervenções são: (i) o pacote apoio à família, que pode ser disponibilizado durante a fase DPI, (ii) o pacote gravidez, (iii) o pacote nascimento (do nascimento a seis meses), (iv) o pacote saúde e desenvolvimento infantil, e (v) o pacote pré-escola.
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FONTE: Investimento na primeira infância com grandes retornos – Maria Cecília Souto Vidigal